Para as incorporadoras, muitos consumidores que estão desistindo agora compraram imóveis na época da euforia para tentar ganhar dinheiro com a alta do preço. [...] Quando a economia começou a desacelerar, ficou mais difícil ganhar dinheiro desse jeito. [...] Hoje, é praticamente impossível: mesmo dando descontos, é complicado vender
O mercado imobiliário foi duramente afetado pela recessão, e é natural que
seja assim. O preço de casas e apartamentos vem caindo há meses. Com imóveis
encalhados, algumas incorporadoras têm dado descontos de 30%, 50% e até 70%
para conseguir vender - além de pagar parte da decoração. No segmento
comercial, cerca de 25% dos escritórios do país estão vazios.
Ainda que a economia comece a se recuperar no fim deste ano, tudo indica
que a retomada do setor imobiliário será lenta. O crédito, motor desse mercado,
está mais caro e bem mais escasso. Além disso, o desemprego é recorde, e a
última coisa que passa pela cabeça de quem está sem trabalho, ou acha que pode
ficar sem num futuro próximo, é financiar uma casa.
Bolha dos distratos
Diante desse cenário, é compreensível que quem comprou um imóvel nos
tempos de euforia, quando o preço subia quase todo mês, sinta uma ponta de
arrependimento. Afinal, é na crise que surgem as oportunidades de pagar barato.
Diante dessa situação, os compradores não têm dúvida: estão devolvendo os
imóveis adquiridos nos últimos tempos para as construtoras e pegando o dinheiro
de volta.
O número aumenta a cada mês, o que transformou a situação no maior enrosco
do mercado imobiliário nacional - o pior de tudo é que, na busca por uma
solução, ninguém se entende. Um prédio leva em torno de três anos para ser
construído. Quem compra na planta vai pagando prestações até que o imóvel fique
pronto - e, nesse momento, costuma pegar um financiamento bancário para quitar
o que falta.
Em três anos, claro, muita coisa pode mudar. Se mudar para pior e o
comprador ficar sem dinheiro para pagar pelo imóvel, a opção acaba sendo
desistir da compra. Os contratos de compra e venda feitos pelas incorporadoras
têm cláusulas de devolução que estabelecem que as empresas podem ficar com uma
fatia do que o consumidor pagou - e que costuma variar de 20% a 60% do total
efetivamente gasto.
Mas, inconformados por ter de deixar dezenas de milhares de reais para
trás, muitos compradores têm entrado com ação na Justiça para receber tudo o
que pagaram - somente em 22 incorporadoras de São Paulo, o número de processos
aumentou 45% no ano passado, para 7 686 casos, e a maioria está ligada a casos
de desistência.
E aí cada juiz decide uma coisa: há os que concordam com as empresas, os
que suavizam as multas e os que mandam as incorporadoras devolver tudo com
juros e correção monetária. Quem está certo? Por incrível que pareça, ninguém - nem empresários, nem juízes, advogados e entidades de defesa do consumidor - sabe direito.
O que está ruim pode piorar
Quando lançam um empreendimento, as incorporadoras só começam a
construí-lo quando vendem, no mínimo, um terço dos imóveis. Caso contrário, o
risco fica grande demais e o projeto é abandonado.
“As desistências surgem em momentos econômicos ruins, justamente quando é
mais complicado revender os imóveis devolvidos”, diz João Paulo Rio Tinto de
Matos, presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado
Imobiliário do Rio de Janeiro.
O maior risco, portanto, é que as incorporadoras fiquem sem dinheiro para
terminar a obra. Segundo a agência de classificação de risco Fitch Ratings, os
distratos - como são chamadas, no jargão do setor, as devoluções de imóveis - corresponderam a 41% das vendas no ano passado.
Além disso, ao lançar um empreendimento, as incorporadoras têm despesas
administrativas, de marketing e corretagem que são diluídas no preço dos
imóveis. Por isso, segundo executivos do setor, elas precisam ficar com parte
do que o consumidor pagou, e essa parcela depende de quanto foi pago e também
de quanto a empresa gastou no lançamento.
“Se for um percentual fixo, pode ficar injusto: em alguns casos a construtora
será prejudicada; em outros, o consumidor”, diz Francisco Loureiro,
desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo. Ainda assim, todas as
tentativas de organizar a bagunça dos distratos buscam fixar um percentual. Há
dois projetos de lei no Congresso sobre o assunto.
Pacto abusivo
Em paralelo,
entidades do setor imobiliário (como Abrainc e CBIC), advogados e secretarias
públicas elaboraram um conjunto de medidas a ser seguidas por empresas,
consumidores e juízes.
Foi chamado de Pacto Global, mas o Procon do Rio de Janeiro não assinou o
documento e advogados especializados em direito do consumidor criticaram as
propostas. O pacto estabelece que, em caso de desistência, o consumidor deve
pagar uma multa de até 10% do valor do imóvel ou perder o sinal e 20% das
prestações já pagas. “São práticas abusivas".
"A soma entre sinal e 20% das prestações pode corresponder a mais da metade
de tudo o que o comprador pagou”, diz o advogado Marcelo Tapai, especializado
em defender consumidores com problemas no mercado imobiliário. O pacto acabou
sendo suspenso pela Secretaria Nacional do Consumidor, vinculada ao Ministério
da Justiça, para nova análise.
No fim do ano passado, o Supremo Tribunal Federal decidiu intervir e
editou uma súmula sobre o tema que diz que as empresas têm de restituir os
compradores “integralmente em caso de culpa exclusiva do vendedor” (quando as
obras atrasam, por exemplo) e “parcialmente no caso de o comprador ter pedido o
desfazimento do contrato”.
Mas não dá nenhuma pista de como calcular essa indenização. Continuaria
tudo nas mãos do juiz de cada caso. No exterior, é bem mais complicado desistir
da compra de um imóvel depois de assinar o contrato. Em Portugal, essa opção
nem existe: quem decidir que não quer mais o imóvel precisa revendê-lo no
mercado - a incorporadora não tem nada a ver com isso.
Nos Estados Unidos, vale o que está no contrato. Em alguns casos, as
empresas devolvem uma parte do que o comprador pagou; em outros, dizem que a
responsabilidade é do consumidor, que deve revender o imóvel. “É o que deveria
acontecer no Brasil”, diz Luiz Antônio França, conselheiro da incorporadora
Tecnisa.
Investimento ruim
Para as incorporadoras, muitos consumidores que estão desistindo agora
compraram imóveis na época da euforia para tentar ganhar dinheiro com a alta do
preço. Até 2012, era possível comprar casas e apartamentos na planta e
revendê-los com lucro de cerca de 40% quando ficassem prontos. Quando a
economia começou a desacelerar, ficou mais difícil ganhar dinheiro desse jeito.
Hoje, é praticamente impossível: mesmo dando descontos, é complicado
vender. “O risco da desvalorização não pode ser somente da incorporadora. É um
risco de mercado. Quando o preço estava subindo, as empresas não lucraram com
isso”, diz Luiz Fernando Moura, diretor da Abrainc, associação que reúne as
maiores empresas do setor.
Na opinião do advogado Rodrigo Bicalho, tirar recursos da construção de um
empreendimento para ressarcir consumidores é ilegal por causa da regra do
patrimônio de afetação. Essa regra estabelece que tudo o que os compradores
pagam à construtora tem de ser, obrigatoriamente, usado nas obras. “Os
recebíveis não pertencem à empresa, mas à construção. É ilegal dar outro
destino a esses recursos”, diz Bicalho.
Enquanto o problema não é resolvido, as incorporadoras negociaram com o
Banco do Brasil e a Caixa Econômica a ampliação de programas de financiamento
na planta - e não apenas quando o imóvel fica pronto. A esperança é que isso
evite o distrato por falta de crédito.
Os bancos privados, porém, não aderiram. Pode levar alguns anos, mas o mercado
imobiliário deve se recuperar junto com a economia. Já as dificuldades
regulatórias do setor parecem mais difíceis de ser resolvidas.
(Exame.com - Notícias - 15/09/2016)
VEJA VÍDEOS SOBRE O ASSUNTO AQUI NO BLOG OU PELO LINK
O s bancos querem e pular fora desse mercado sem liquidez.Quando os imoveis de 40 m2 chegar a 40 mil me acordem....kkkkk pois ai quero estar acordado pra ver chegar a 20 mil..kkk
ResponderExcluirCrédito é igual remédio, se houver superdosagem, mata.
ResponderExcluirEm suma, a ganância criou este caos! De um lado as construtoras querendo ganhar muito vendendo imóveis tosco a preço de imóvel de luxo. Do outro lado, consumidores investindo em imóveis para obtenção de dinheiro fácil. Agora estão brigando entre si. Que explodam! Eles se merecem!
ResponderExcluirSe o Brasil fosse um país sério e responsável, jamais permitiria o que aconteceu.
Bancos públicos só deveriam financiar o primeiro imóvel ou a sua troca e, se fosse para investimento, as taxas deveriam ser dobradas, triplicadas...Sem falar nos impostos que deveriam ser bem mais altos para quem tem mais de dois imóveis.
Bancos no geral deveriam ser obrigados a financiar a construção dos imóveis e estes só deveriam ser colocados a venda no mercado após finalizados.
Disse tudo!
ExcluirGostaria de saber aonde tem desconto de 50% e 70% isso me parece propaganda enganosa ...
ResponderExcluirObvio.. e so pedir....kkkk e ainda pode chegar a 80%...kkkk
ExcluirVc pega um apartamento que vale 150.000,00 oferece por 500,00 e fecha por 230.000,00 simples assim. Baixar de verdade nem pensar.
Excluir30% de desconto sobre o triplo do "preço bolhudo" praticado nao vira,quando chegar a 1 mil reais o m2 me acordem...Ja pensou pagar 400 mil e descobrir que na verdade vale 80 mil e ter que alugar por 1,2 mil? So doido mesmo....
ExcluirPior. Na planta 330.000. O dono queria 600.000. Acreditem 600.000 após 3 anos de obras. Ofereci 430.000, não quis, ainda riu.
ExcluirAgora já baixou para 540.000 e não vende e pagando condomínio. Comprar tem sempre alguém. O problema é a ganância!!
Só vos digo uma palavra: inflação.
ExcluirPor isso dessa imensidão de imóveis disponíveis.
ExcluirNa sua paciência!!!
ResponderExcluirConstruam e aprontem as moradias.
ResponderExcluirColoquem na vitrine.
O povo vai ver o lugar, o tamanho, a qualidade, o acabamento, o condomínio etc...
Por fim vem o preço, que será negociado a vista ou parcelado.
Qualquer coisa fora disso pode esquecer, já era, é putaria, o povo cansou de ser idiota e vítima de mentiras.
Isso mesmo.
ExcluirEu vivo em um lugar um pouco diferente da realidade de vcs... terreno $70/$150 mil... dependendo da localidade. Imóveis à venda por $200/$300 mil de padrão médio... minha casa minha vida por #99/120 mil... só está vendendo nesta condição. Saiu do minha casa minha vida, o mercado está parado... mas os preços ñ baixaram... pelo menos ainda....
ResponderExcluirMas tbm nao vende...entao e casar com o tijolo "imovel" e viver igual arvore:plantado e assim a vida passa..e a hora que vc acordar ja era...passouuuuuuuu....
Excluir