Com taxa de juros e inflação em alta no País, venda de imóveis deve cair também no segundo semestre e prejudicar o setor, dizem analistas
O atual quadro econômico brasileiro - com inflação alta, taxa básica de
juros em ascensão e baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) - ameaça o
desempenho das incorporadoras imobiliárias no segundo semestre. De acordo com
analistas e empresários, a piora dos indicadores macroeconômicos pode esfriar a
demanda por imóveis e respingar nos resultados financeiros das empresas ao
longo dos próximos meses.
"Uma economia estagnada provoca freio na demanda. Se isso se
consolidar, teremos um segundo semestre ruim", afirmou João da Rocha Lima,
coordenador do Núcleo Imobiliário da Universidade de São Paulo (USP) e
conselheiro da incorporadora PDG Realty. "Só é razoável para o consumidor
assumir um financiamento imobiliário se houver segurança em relação à renda e
ao emprego. Se não tiver isso, ele adia a decisão de compra", explicou
Lima. De acordo com o diretor-presidente da imobiliária Brasil Brokers, Sérgio
Freire, as vendas de imóveis foram fracas em janeiro e fevereiro, boas entre
março e maio, mas voltaram a arrefecer em junho - segundo ele, por causa da
onda de manifestações pelo País. "O ambiente político e econômico está influenciando.
As pessoas estão mais cautelosas ao se endividar para comprar
apartamentos", disse. Freire observou que o ciclo de alta na taxa básica
de juros (Selic) também tornará mais atrativo o retorno financeiro com outros
investimentos, como títulos públicos. Segundo ele ,isso pode incentivar a
migração daqueles investidores que hoje aplicam seu dinheiro em imóveis, cuja
valorização anual gira em torno dos 10%. "Com a Selic em 8,5% ainda não
temos esse problema, mas, se ela terminar o ano em torno de 9,5%, o investidor
vai começar a fazer as contas."
A perspectiva do mercado financeiro é que a Selic encerre 2013 no
patamar de 9,25%, de acordo com o Boletim Focus, do Banco Central. Outro
problema da taxa de juros mais alta é o efeito negativo sobre as incorporadoras
que estão muito alavancadas. De acordo com o analista de construção civil do BB
Investimentos, Wesley Bernabé, esse efeito será sentido pelas companhias em que
a dívida corporativa(debêntures e capital de giro) tenha um peso maior na composição
total da dívida, pois esses financiamentos estão atrelados ao CDI e à taxa
referencial (TR), que acompanham a variação da Selic. "Empresas em que a
dívida corporativa está acima de 50% do total não estão bem", disse
Bernabé.
(O Estado de S. Paulo - São Paulo/SP
- ECONOMIA - 17/07/2013 - Pág. B12)
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