Total de acessos

Teste

quarta-feira, 25 de julho de 2018

Portal EM: O retrato da crise e dos distratos no mercado imobiliário


Ao contrário do que muita gente pensa, a maioria dos que estão devolvendo os imóveis não é de trabalhadores que perderam seus empregos, mas de investidores que desistiram da compra por conta das correções nos preços dos imóveis. [...] Estamos chegando no fundo do poço, mas ainda acho que vamos ter um segundo semestre um pouco difícil

O engenheiro Luiz Antonio França, CEO contratado da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), desde março do ano passado não consegue falar sobre o mercado imobiliário sem tocar num assunto que vem tirando o sono dos empresários do setor: os distratos, a devolução de imóveis comprados na planta, problema que vem afetando o desempenho das 33 empresas associadas à entidade. O Projeto de Lei que propõe novas regras para o rompimento de contratos foi rejeitado na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. Romero Jucá (PDB-RR) protocolou um recurso e a previsão é que a votação aconteça no início de agosto.

Com muita experiência no mercado financeiro, antes de assumir a Abrainc, o executivo diz que, ao contrário do que muita gente pensa, a maioria dos que estão devolvendo os imóveis não é de trabalhadores que perderam seus empregos, mas de investidores que desistiram da compra por conta das correções nos preços dos imóveis. Entre janeiro e março deste ano, o número de devoluções chegou a 7.025 imóveis, pouco mais da metade dos 13 mil lançamentos realizados pelo mercado no mesmo período.

Além dos distratos, outra preocupação do setor é em relação a volatilidade da economia brasileira que não ajuda em nada, pelo contrário, afasta investidores e fomenta o desemprego. Só no segmento de incorporadoras o número de postos de trabalho foi reduzido de 2,5 milhões de trabalhadores, em 2014, para os atuais 1,3 milhão. Boa parte dos cortes, diz o executivo, pode colocar na conta das devoluções de imóveis. A outra parte, se deve a crise econômica. Melhora só em 2019, depois de definida as eleições e realizadas as reformas necessárias.

O mercado de imóveis esperava um 2018 melhor. Os números no final de 2017, e início deste ano, até apontavam para uma retomada. O que aconteceu?
O segmento de imóveis de baixa renda continuou forte. No Brasil, esse segmento é apoiado pelo programa Minha casa, minha vida, um dos melhores programas estruturados para a habitação popular. Entregamos um volume de quase 5 milhões de moradias em todo o país. Essa faixa foi extremamente resiliente à crise. Isso se dá em função do grande déficit habitacional na moradia popular. Porém, temos outros segmentos que não foram resilientes, que são os de imóveis de médio e alto padrão.

O que ocorreu?
Esses dois segmentos já seguiram um comportamento de crescimento no passado igual ao de outros países que têm o mercado de imobiliário desenvolvido, ou seja, taxa de juros abaixo de dois dígitos, baixo nível de desemprego e bom marco regulatório. No Brasil, com a volatilidade, ficamos hoje com duas dificuldades: o desemprego e os problemas de marco regulatório, que são representados por um volume crescente devoluções de imóveis.

O senhor está se referindo aos chamados distratos?
Sim, a devolução de imóveis pelos compradores. Isso para o empresário significa a mesma coisa que se uma indústria qualquer que vende um produto e, dois meses depois, a pessoa quer devolvê-lo e receber o dinheiro de volta. É como se uma loja vendesse uma televisão para os jogos da Copa e, terminado o Mundial, o comprador viesse devolver o aparelho e exigir o dinheiro de volta. Você vende um apartamento para entregar no futuro e aí a pessoa desiste e quer ressarcir o valor pago. Nenhuma equação econômica dentro de uma empresa fica de pé se não sabe se a venda que foi feita é venda mesmo.

Hoje, a lei determina que um percentual desse valor pago pelo comprador fique com a construtora.
Sim, mas esse percentual é insuficiente e desestabiliza o mercado. Em outros países, o cliente perde é 100% em caso de desistência. Não tem cabimento: você vende uma coisa para entregar no futuro e depois a pessoa não quer mais e, muitas vezes, ela não quer mais porque teve uma variação de preço e não se interessa mais por aquele imóvel que comprou.

Muitos estão devolvendo porque não têm condições de pagar por conta de ter perdido o emprego. O senhor concorda?
O sujeito que vai a uma concessionária comprar um carro e, depois, perde o emprego, o que acontece? O banco perdoa a dívida? o carro é aceito pela montadora? Claro que não. A incorporadora não é seguro-desemprego e não tem a capacidade de absorver os problemas do cliente. Para fazer isso, teríamos que colocar esse risco no preço do imóvel. Esse risco de perda de emprego do comprador não cabe à incorporadora que está vendendo o imóvel.

Essa questão ainda está sendo discutida no Congresso. Uma primeira proposta que determina a devolução de 50% do valor pago já foi aprovada pela Câmara.
Sim, mas a maioria das devoluções não é porque o comprador perdeu o emprego. Essas representam apenas 10% dos que devolveram os imóveis. São pessoas que compram vários imóveis para investimento. Quando o preço é reajustado, ele devolve o imóvel. São especuladores. E mais: esses caras que estão fazendo isso estão usando os órgãos de consumidores.

É possível provar que são especuladores?
É um fato que a gente, o mercado, sabe. Não temos estatística, mas é o que a gente tem observado em todas as empresas. Todo esse problema dos distratos no segmento de média e alta renda acabou culminando em uma perda de 1 milhão de empregos no setor da construção entre 2010 e 2016. Se não tivesse esse número grande de devoluções, não tenho dúvidas de que o mercado estaria entregando os imóveis, não haveria atrasos e, mais do que isso, quando se faz um distrato, o mesmo apartamento que foi vendido precisa ser repassado para outro comprador. Se não tivesse o distrato, esse mesmo comprador estaria comprando outro apartamento em construção. Sem os distratos, mesmo com o mercado em crise, o setor estaria em uma posição melhor no segmento de média renda, teríamos um nível de emprego melhor.

Em função dos distratos e da crise, as demissões atingiram muitos trabalhadores?
O nosso segmento de incorporação de imóveis é fortemente empregador e chegou a ser responsável por 2,5 milhões de postos de trabalho em 2014. No ano passado, reduzimos esse número para 1,3 milhão de trabalhadores. Este ano, estamos tentando nos manter neste nível.

Na questão do distrato, qual é a proposta do setor?
O que foi aprovado na Câmara (devolução de 50% do valor pago pelo comprador do imóvel) não é ideal para o segmento. O certo seria o que é visto no mundo inteiro, que tem o mercado de imóveis desenvolvido. Se olharmos com base em outros mercados, no caso da desistência do imóvel, o comprador perde 100% do valor que pagou. O correto é que tenhamos os mesmos parâmetros que se tem a nível mundial. Esperamos que o Senado tenha uma capacidade de entendimento de que somos uma indústria geradora de empregos. Se ele não fizer isso, os prejudicados serão os trabalhadores que empregamos e toda a cadeia da economia que estamos inseridos.

Isso também pode gerar menos investimentos?
Sim, tem também os efeitos nos investimentos. Somos um setor de ciclo longo de produção e se não tivermos estoque e a demanda aumentar muito o que vai ocorrer é que o preço vai subir. Se isso ocorrer, o prejudicado é o comprador, que terá mais dificuldade para adquirir a metragem quadrada que ele quer. As pessoas têm que entender que não estamos falando na situação financeira das empresas. Os balanços dessas empresas são um retrato do que a crise e os distratos causaram. Estamos falando em ter a continuidade do mercado de incorporação no Brasil e de as pessoas terem capacidade de investir. Por isso, a necessidade de regras e regulamentação claras. É isso que qualquer pessoa que vai investir em qualquer lugar do mundo quer.

E a economia neste ano, qual é a sua análise?
Estamos passando por uma volatilidade muito grande, o que não é nada bom para a economia. Estamos chegando no fundo do poço, mas ainda acho que vamos ter um segundo semestre um pouco difícil. Não dá para dizer que teremos uma reação forte, porque, além de toda a volatilidade causada pela crise política, vamos ter as eleições. A volatilidade vai continuar, mas passando o pleito e resolvendo adequadamente alguns problemas que devem ficar das eleições, não tenho dúvida de que o próximo presidente terá de enfrentar todas as reformas estruturais do Brasil.

(Portal Estado de Minas - Notícia - Economia - 16/07/2018)

VEJA VÍDEOS SOBRE O ASSUNTO AQUI NO BLOG OU PELO LINK

14 comentários:

  1. Na minha opinião, a regra atual de distrato ofereceu uma "segurança", uma limitação de perda, próximo do capital investido, isto representa um risco menor ao investidor que uma regra de 50%.
    Isto deve afastar investidores ao preço atual, o prêmio precisa ser maior, proporcional ao risco, o que forçaria uma queda nos valores.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Os investidores, ou melhor, pra mim "pseudo investidores" junto com venda na planta e mutuotários são os principais responsáveis pela crise atual. Onde já se viu, o cara compra um imóvel e depois quer revendê-lo pelo dobro do preço sem ter havido nada que justificasse o aumento como, por exemplo, obras no bairro, melhorias em vias etc. Isso não é investidor, é especulador pra não dizer "malandro". Sou completamente favorável que haja regras que inibam isso desde que não afete a pessoa de bem que comprou para morar, mas por diversos motivos teve que desistir.
      Finalizando, é culpa das construtorias e imobiliárias também que aprovavam crédito sem critério.

      Excluir
    2. Se o investidor quer dividir o risco, deveria dividir os lucros também.

      Excluir
  2. Estudo da GV aponta que a situação da Classe Ç está piorando, estão comendo toda gordura dos 13 anos de vacas eufóricas, estão caloteando dívidas velhas e estão aumentando as dívidas novas a juros maior e o desemprego que vinha l e n t a m e n t e melhorando, voltou a piorar.

    https://g1.globo.com/economia/educacao-financeira/blog/samy-dana/post/2018/07/24/por-que-tantos-brasileiros-estao-inadimplentes.ghtml


    Mas algumas coisas vão bem, por exemplo, para o Samy DAna, unico jornalista/economista a correr contra a manada, hoje é dos mais requistados na TV brasileira, o mesmo digo para quem seguiu os conselhos dele e fez escolhas racionais.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Do que trata a reportagem, em resumo:

      Primeiro o seguro-desemprego acabou,
      depois o FGTS
      depois as indenizações de demissão
      os saques antecipados que o governo disponibilizou tbm já evaporou
      Agora estão comendo poupança e investimentos, renda fixa e imovel (distrato de quem investiu em imóvel)
      Ainda estão renegociando dívidas, criando residual que vai explodir lá na frente daqui 30 anos quando acabarem as parcelas, restará um saldo devedor maior que o valor do imóvel.

      Os leilões vão crescendo.
      Os anuncios acumulando.
      Isto tudo é ótimo, pro comprador, está-se formando um cenário de grandes oportunidades imobiliárias crescentes pelos próximos dez anos pelo menos.

      Excluir
  3. Citando o artigo:
    "O sujeito que vai a uma concessionária comprar um carro e, depois, perde o emprego, o que acontece? O banco perdoa a dívida? o carro é aceito pela montadora? Claro que não."


    kkkk
    Desde quando se vende carro na planta???
    Desde quando 90% (dados do próprio artigo) dos compradores que desistem do carro o fizeram para especular???

    cara-de-pau

    ResponderExcluir
  4. Curiosamente, quando os especuladores estavam especulando com os ágios, as construtoras estavam apoiando o aumento repentino de preços. Os corretores diziam que imóvel era um ótimo investimento cujo valor nunca baixa. Aliás se vc fosse ver um, eles diziam que era para você comprar dois, porque, quando o empreendimento ficasse pronto, você vendia o ágio do segundo e quitava o primeiro. Agora que o mercado mudou , querem passar a responsabilidade para os "investidores"

    ResponderExcluir
  5. Muita bobagem falada por esse cidadão, a época do imóvel já foi, agora somente a partir de 2030. Se querem manter a construção civil e empregos já passou da hora do investimento em infraestrutura, pois a época dos tijolos de ouro já foi, não entendo porque ficam construindo se não tem cliente? Vão revender os distritos, terminar obras paradas... enfim parem de fazer lançamentos sem ter pra quem vender e vão fazer algo inteligente

    ResponderExcluir
  6. Vai terminar de travar tudo.

    ResponderExcluir
  7. Das milhares de bobagens que o entrevistado falou, serviu pra uma coisa, ele deu com a lingua nos dentes, reparem neste trrecho:

    "Sim, mas a maioria das devoluções não é porque o comprador perdeu o emprego. Essas representam apenas 10% dos que devolveram os imóveis. São pessoas que compram vários imóveis para investimento."

    Vejam só 90% do mercado são ESPECULADORES, procurando trouxa maior.
    Isso explica o festival de asneiras que aparece nos comentários todo fim de semana, são os inBestidores de fimdesemana, com B de Burri mesmo


    Olhem essa:

    "Quando o preço é reajustado, ele devolve o imóvel. São especuladores."
    Reajsutado pra baixo, ele esqueceu de dizer, isso ocorre com força desde 2012 (os primeiros vem de 2010) e não parou mais, 6 anos dando prejuízos e ainda assim tem distrato encalhado no Juizado.

    Outra pérola?
    "E mais: esses caras (os especuladores) que estão fazendo isso estão usando os órgãos de consumidores.
    Sim, porque se fosse regulado pela CVM, onde que por exemplo, prometer valorzação futura é crime, estavam todos presos multados por n crimes financeiros: de pirâmide a falsificação de documentos, todos presos, de corvo a investidor, passando pelas incorporadoras. Eles tem sorte das leis do consumuidor serem brandas.

    Chora não fio!
    AGRADECE!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. muito bom o comentário... o entrevistado joga toda a culpa nos compradores e quer 100% de volta do dinheiro da compra dos imóveis a incorporadora... realmente é ridículo e um absurdo..

      Excluir
    2. O comprador tbm tem culpa ao fraudar documento pra romper o limite legal de 30% da renda, inclusive entrando em esquemas de corrupção de gerentes de banco publico, seja por ação seja por coação.

      O mercado imob hoje é briga de cão (e que me desculpem os bixos, não achei figura melhor)

      Excluir
    3. Ótimo comentário! Só faltou realçar essa outra pérola dita:

      "... se não tivermos estoque e a demanda aumentar muito o que vai ocorrer é que o preço vai subir. Se isso ocorrer, o prejudicado é o comprador, que terá mais dificuldade blá blá blá..."

      Para a demanda aumentar a ponto de faltar imóveis, será necessário uma queda absurda nos preços, então não deve se preocupar com isso agora. Talvez daqui 20 ou 30 anos...

      Excluir
  8. Nossa quase vomitei quando vi a tamanha cara de pau desse entrevistado
    Pelo jeito pra ele o mercado deve ser regulado de uma maneira onde somente ele ganha e os outros sempre perdem
    Ele vende o sonho para o otário. O otário não tem condições de pagar, fica com o nome sujo e ainda por cima perde TUDO que deu de entrada e assim ele (o corvo) passa o sonho (digo imóvel) para o próximo otário
    Será que esse país vai ser sério algum dia?
    É de ficar preocupado viu !

    ResponderExcluir